Cantar Alentejano
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
Poema de : Vicente Campinas
Cantado por: Zeca Afonso, no álbum "Cantigas de Maio" de 1971
Este poema foi dedicado a Catarina Eufémia, ceifeira portuguesa de Beja que foi baleada na consequência de um protesto pedindo um aumento de pagamento da jorna (pagamento semanal) visto que estavam no pico da ceifa do trigo (Novembro de 1954). Tinha 28 anos e três filhos, um dois quais com 8 meses, estava no seu colo no momento em que o tenente Carrajola da Guarda Nacional Republicana a matou.
“Anteontem, numa questão entre trabalhadores rurais, ocorrida numa propriedade agrícola próximo de Baleizão, e para a qual foi pedida a intervenção da G.N.R. de Beja, foi atingida a tiro Catarina Efigénia Sabino, de 28 anos, casada com António do Carmo, cantoneiro em Quintos. Conduzida ao hospital de Beja, chegou ali já cadáver. A morte foi provocada pela pistola-metralhadora do sr. Tenente Carrajola, que comandava a força da G.N.R. No momento em que foi atingida, a infeliz mulher tinha ao colo um filhinho, que ficou ferido, em resultado da queda.(...)"
Esta trágica história acabou por se tornar numa personificação da resistência ao regime salazarista e símbolo de resistência do Partido Comunista Português no Alentejo.
Vários autores entre os quais Sophia de Mello Breyner Andersen e José Carlos Ary dos Santos inspiraram-se na história desta trabalhadora rural, que era símbolo de dedicação aos ideais de justiça e igualdade, para escreverem os seus poemas.